Em 02 de novembro de 1953 nascia, na Terra do Maracatu (Nazaré da Mata), Severino Belarmino da Silva. Filho de João Belarmino da Silva e Noêmia Barbosa. Sua infância foi de constantes encontros e contatos com a Cultura Popular, com cortejos de Maracatus, Bois, Troças, além de apresentações diversas como Pastoris, Cocos e outras manifestações.
Na adolescência ganhou o apelido de “Sapatão”, jogando futebol nos times de Nazaré da Mata. O apelido surgiu porque na mesma época, o Santa Cruz Futebol Clube havia contratado um jogador do Bahia conhecido por esse apelido. Como Belarmino se assemelhava fisicamente, na forma de jogar e até ocupava a mesma posição do jogador, passou a ser apelidado também de Sapatão. Esse apelido ultrapassou as quatro linhas e alcançou o universo artístico.
Por volta dos 16/17 anos, Belarmino resolveu frequentar uma escola de música e escolheu a Sociedade Musical 5 de Novembro, a Revoltosa. Seu sonho era aprender a tocar trompete, mas na oportunidade o único instrumento disponível era um velho trombone. Sapatão nem pensou duas vezes. Segurou o trombone e começou a “bater lição”. Seu primeiro professor na Revoltosa foi Luiz Coração de Jesus, que era sapateiro durante o dia e professor de música durante a noite. Além das aulas na banda-escola, Sapatão recebia aulas de reforço do pai, que tinha experiência por ser tubista da Capa Bode, outra banda-escola da cidade. Já naquele momento, ele tentava repassar o que aprendia para outros alunos que não tinham a mesma oportunidade de aulas de reforço em casa.
Naquela época, ele colocou na cabeça que em algum lugar a
música estava sendo apresentada e ensinada de alguma forma diferente. E ele
queria aprender. Sempre que precisava ir ao Recife, procurava o lugar que sua
imaginação tanto martelava. Até que um dia, na primeira metade da década de
1980, na capital pernambucana, ele encontrou o que seu instinto musical dizia
aos seus ouvidos. E foi logo o Conservatório
Pernambucano de Música. Sua imaginação estava certa. Não demorou muito e
Sapatão já estava dentro do conservatório aprendendo música. E, assim como ele
imaginou, de uma forma diferente. Seu professor e mestre no CPM foi o maestro Edson Rodrigues.
O momento de Belarmino no conservatório o fez ter a certeza
de que aprender nunca é demais. E a forma diferente de aprendizagem o
possibilitaria abrir os horizontes ainda mais.
Ao concluir seu curso, recebeu propostas para seguir com seu
ofício no Recife. Agradeceu, mas recusou. Porque sua meta era aprender e
repassar seus conhecimentos em sua terra natal.
Sapatão levou para Nazaré da Mata um novo método de ensino musical. Foi pioneiro em implantar esse
método na Zona da Mata. Levou inicialmente para a Capa Bode, primeira escola de
música a receber na região um Quadro com Pentagrama. Em seguida levou essa
bagagem de novos conhecimentos para a Revoltosa. Esse novo método rapidamente
espalhou-se em toda a região.
De sua parte, o trabalho no ensino da música sempre foi
filantrópico. Ele costuma dizer: “Eu não
vivo profissionalmente de música”.
Mas é nítido e justo dizer que sua dedicação para ensinar
arte, sobretudo aos mais carentes, transforma
a vida de muita gente através da transmissão de saberes todos os dias na
sede da Sociedade Musical 5 de Novembro. Inclusive, durante um período em que
ele estava afastado da instituição, seguiu fazendo seu trabalho de forma
independente e filantrópica com crianças e adolescentes em parcerias com
escolas da cidade. Atualmente continua desempenhando seu papel na Revoltosa,
onde retornou há 6 (seis) anos.
Texto: André Agostinho | Adap.: Gilberto Barboza
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